sábado, 6 de agosto de 2011

Sinestesia em um ônibus amarelo


Em uma cidade onde o sol nunca se cansa de bilhar, e onde as ruas são de tom avermelhado ,uma garota senta na janela de um ônibus amarelo e faz o seu ritual de todo dia,simples prelúdios de sua vida. Ela que sempre tentou ver além da imagem,ler além das palavras e sentir além da pele, se questiona com tom ameno sobre a trajetória dos que optam por sonhar. Durante as poucas horas em que essa garota se senta em um banco,um mundo de idéias sobre o Senhor compositor de destinos, chamado tempo desfilam sobre sua mente. Ela,menina das letras e dos símbolos,que tenta encontar os sujeitos e os anti-sujeitos da sua história,para enfim compreender um pouco mais de si,não se cansa de colocar reticências onde deveriam haver pontos finais. Sentir é o verbo que age sobre os olhos dessa moça.

A trajetória que leva de sua casa até o trabalho é curta para os ponteiros de um relógio,mas longa para uma mente tão cheia de desejos,amores inventados e sonhos abdicados. Acreditar na generosidade é o tema mais interessante de sua história.História de alguém tão jovem que sempre acredita na doçura que há na batalha,por mais que ela seja ácida. Se tivéssemos que oferecer uma figura de linguagem para essa personagem,seria a sinestesia, pois em apenas 28min, essa garota é capaz de sentir além dos sentidos e misturar todos os sonhos que a humanidade pode ter em um instante. Frequentemente ela faz paráfrases e citações daqueles que exergam a vida com doçura.

Em dia de humor,Luís Fernando Veríssimo faz um sorriso estampar em seu rosto. Em dias de questionamento,Alberto Caeiro a faz compreender um pouco de filosofia. Em dias de amor,Paulo Leminski a faz lembrar de mil diamantes que outrora iluminavam os batimentos do seu comboio de cordas,o coração. Quando ela olha para o frio asfalto cinza,e se sente um tanto deslocada,um poeta sussura em seu ouvido e diz”você ainda tem as estradas”.

Tudo isso pode acontecer na mente de uma garota apaixonada e sonhadora dentro de um ônibus amarelo.