domingo, 26 de junho de 2011

Artur da Távola


As pessoas amam bem mais a expectativa do amor possível, que o amor propriamente dito. Daí a intensidade dos impulsos bloqueados, os que estão impedidos de expansão e movimento na direção do objeto amado. Os "grandes amores" da literatura são grandes, não por serem amores, mas por serem impossíveis. Já os grandes amores da vida real só quem sente é que sabe. A impossibilidade de dimensionar um impulso afetivo carrega de energia a fantasia. E esta se encarrega de dar dimensão ao que o exercício da relação, talvez, tirasse. Na paixão impossível só estão as projeções do que idealizamos, pretendemos ou não conseguimos viver em nosso cotidiano. Daí ser fácil entender sua força, sua obsessiva presença na cabeça dos enamorados. É por isso, aliás, que só é musa quem é inatingível. Case-se com a sua musa e acordará com uma jararaca... Case-se com quem ama e será feliz. Quer se ver livre de uma paixão colossal? Vá viver com a pessoa objeto da paixão (observem, por favor, que não estou usando a palavra amor). Aliás, já está nos clássicos e, mesmo, antes destes, nos antigos: "A conquista enobrece e a posse avilta". Ou, como dizia Goethe: "Nas batalhas da paixão, ganha aquele que foge". Quantas vezes as relações humanas terminam ou se interrompem sem terem esgotado o potencial de possibilidades adivinhadas, intuídas, sentidas. Aí, o que não se esgotou clama por vir à tona e, muitas vezes, ameaça ocupar (e às vezes ocupa, efetivamente) todo o "ego". Não é por outra razão que o apaixonado é o maior dos egoístas. Ao dedicar tudo ao objeto da paixão, está é alimentando a própria necessidade, seja de sofrimento, de idealização, de felicidade ou fantasia. Entupido de impossibilidades, ele clama. E a isso muitos chamam amor. Mas amor é coisa muito diversa... Amor não clama nem reclama: amor dá. (Artur da Távola)

quinta-feira, 23 de junho de 2011


A lembrança da tua voz
é minha companheira nos dias de tempestade
nas horas que lembro, viver é preciso
apesar de...
apesar de tanta coisa ficar perdida
entre os olhares que nunca,
n-u-n-c-a mais irão se cruzar
mas a tua voz fica, e soa,
e canta às vezes
e eu começo a chover,
a chover,
c
h
o
v
e
r
para dentro de quem um dia fui
contigo.

Cáh Morandi

terça-feira, 21 de junho de 2011


Sendo corpo a continuação das nossas palavras, os sentimetos me colocam para escrever.Passa-se a vida escrevendo, cantando, amando, sendo e se iludindo. Quando uma ilusão é substancialmente real muitas vezes não sabemos o que fazer com ela, então é necessário deixa-la partir...
Parafraseando Juleta venegas e Marisa Monte, confesso que uma vez eu tive uma ilusão, e não soube o que fazer com ela, então ela se foi, por que eu a deixei? Não sei. Eu só sei que ela se foi...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Odi et amo


Odi et amo. Quare id faciam, fortasse requiris.
Nescio, sed fieri sentio et excrucior.

Odeio e amo. Por que faço isso, talvez perguntes.
Não sei, mas sinto acontecer e me torturo.

domingo, 12 de junho de 2011

Foi Deus quem fez o vento que sopra os teus cabelos...


Foi Deus que fez o céu,
O rancho das estrelas.
Fez também o seresteiro
Para conversar com elas.

Fez a lua que prateia
Minha estrada de sorrisos
E a serpente que expulsou
Mais de um milhão do paraíso.

Foi Deus quem fez você;
Foi Deus que fez o amor;
Fez nascer a eternidade
Num momento de carinho.

Fez até o anonimato
Dos afetos escondidos
E a saudade dos amores
Que já foram destruídos.
Foi Deus!

Foi Deus que fez o vento
Que sopra os teus cabelos;
Foi Deus quem fez o orvalho
Que molha o teu olhar. Teu olhar...
Foi Deus que fez as noites
E o violão planjente;
Foi Deus que fez a gente
Somente para amar. Só para amar...

Mais uma vez... Camões!


Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.

Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.

sábado, 11 de junho de 2011

o que eu quis inventar pra preencher o meu mundo particular...


O coração é bobo, tão bobo que finge sentir afetos que nem ao menos estão ao alcance de nossos olhos. Esse texto é dedicado para aqueles que possuem coração de criança, que está sempre cheio de esperança de um dia ser tudo o que quer.
Para aqueles com coração de criança, só é necessário uma dose de palavras adocicadas, mais parecidas com jujubas para que o portador desse coração creia nelas. Sempre, na vida de um coração bobo, aparecem situações que o fazem parecer mais bobo ainda, então esse coração começa a construir castelos de areia, para preencher seu mundo particular.
E como um coração bobo fica feliz? amando em solidão!

11 de junho de 2011